segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Alimentando macacos.







         -- Olha como são pequenos, bate foto, olha tem mais alguns chegando correndo pelo muro – Ele estava feliz, eu também, afinal essa visão era um privilégio para poucos, e sentia-me um pouco abençoado nesse sentido.

            -- Isso prova que essa cerca elétrica é só para inglês ver não é filho? Deixa que eu bato... – Ele me olhou com seu olhar mais maroto e deu um pequeno sorriso.
            -- Vou correndo pegar banana – saiu correndo para dentro de casa.
            Eles tem horário sempre entre seis e nove horas da manhã, é certo que é um horário um tanto quanto flexível, mas é um horário. Eles vem em um único bando, esse bando tem sempre entre dez a quinze membros e agora estão acostumados com nossas bananas, então a visita é rotineira, todas as manhãs.
            -- Fico me perguntando como bichinhos tão pequenos conseguem emitir esse som tão alto filho – Olhei para o rosto de meu filho que com seu olhar devolveu minha indagação.
            -- Trouxe meia dúzia de bananas, será que dá? – as bananas pareciam meio verdes mas já dava para eles comerem.
            -- Filho, meia dúzia é muito, três, no máximo quatro bananas é a conta para esses esfomeados.
            Abri a primeira banana, joguei a casca, afinal era tudo mato e ali já seguia um pouco de adubo natural, fui partindo em pequenos pedaços e colocando ao longo do muro, eles, impacientes as vezes pegavam direto de minha mão, com suas pequenas mãozinhas de no máximo um centímetro, olhavam-me, acho que cobrando rapidez, estendiam a mão (ou seria patas? Mas é em formato de mão...) e pegavam os pequenos pedaços de banana.
            O silencio fez-se geral, todos estavam comendo – Ah! Olha as costas desse pequeno deve estar doente, parece um pequeno tumor filho...
            -- Puxa que chato pai, mas olha... – Onde parecia ser um pequeno tumor, levantou-se uma pequena cabeça, era um pequeno entre os pequenos, um pequeno filhotinho que não deveria ter a altura maior que um polegar.
            -- Ah! Que danado, de carona no papai, ou seria mamãe? – Perguntei olhando para meu filho.
            -- Isso é contigo pai, conheço menos que você – Seu olhar parecia mais manso esse dia, esse é meu filho de olhar mais manso, não que eu tenha preferencias, amo a todos, mas com um a gente se afina em uma coisa, com outro em outra, com esse talvez fosse na paixão pela vida, pelos questionamentos da vida e pelos animais e vamos seguindo como família.
        -- Bom dia família. – Foi assim que o moço nos cumprimentou na Galeria do Rock, senti tanto carinho e respeito em seu comprimento, foi dia de ver tênis caros, mas a grana estava curta, compramos camisetas e seguimos para almoçar no quilo, quilo caríssimo diga-se de passagem   ou nossa grana que estava curtíssima.
            -- Eles estão com bastante fome hoje filho, deve ser por conta da família e do bando que aumentaram.
            -- Você não acha um privilégio? – Começou a comer uma banana também. Comilão como sempre, um glutão em essência como eu fora um dia, atualmente nem o esporte, nem a boca fechada, nem a dieta vegetariana conseguem controlar as denúncias da balança.
            -- Devagar com o andor mano, a banana é para eles – Usar um pouco do meu “mano” era uma gíria que me acompanhava desde a adolescência e estava incorporada ao nosso dia-a-dia.
            -- Mas você disse que tinha banana demais....mano. – Brincou ele e já começava a abrir a segunda banana – Vamos fotografar?
            -- Sim, ótimo, ele não são muito bonitos? – Quando viajamos da última vez, viajei preocupado, como eles fariam se não achassem comida na área de preservação que ficava bem em frente a nossa casa? Escalei vizinhos para a tarefa.
            -- Sandra tem duas dúzias de bananas ai, você pega três, parte em pedaços pequenos e distribui ao longo do muro, consegue fazer isso? – Eu achava que não minha vizinha Sandra passava a imagem daquelas que não consegue controlar duas tartarugas, tinha seus filhos e marido para cuidar, mas parecia ter um coração para lá de bondoso. Chamei Márcio também.
            -- Márcio você faz isso?
            -- Bah guri, deixa comigo, a macacada vai ficar até gordinha – sentamos para rir e virámos nosso copo de  Budweiser que para ele é a melhor cerveja do mundo.
            -- Como são bonitos não é filho? Realmente é um privilégio, quando voltarmos de vez para São Paulo, acho que vão ser o “objeto” de maiores saudades de minha parte.
            -- Pai não esqueça dos pica-paus, dos quero-queros, da revoada dos pássaros pela manhã e após o término da chuva, tem as aranhas, as cobras, os besouros,  os pernilongos, os lagartos...
            -- Acho que  nem Tarzan sonharia com uma vizinhança tão abençoada como essa não é filho – Passei a mão em seus cabelos curtos, mania de passar maquina um, tudo baixinho era como ele gostava.
            -- Olha a carinha de medo do filhote? – Seu olhar estava brilhante como estava brilhante aquele dia, as cigarras começavam a cantar e Ozzy, nosso membro da família felino saiu correndo atrás de uma.
            Eles começaram a ir, do muro pularam para os galhos da árvore que ficava rente ao muro.
            -- Tem prova hoje?
            -- Sim geografia.
            -- Estudou? – Sabia que não, sua vida é entre a quadra e o celular.
            -- Não pai, mas a matéria está fácil.
            -- Bom se você se garante está bem, mas não descuide ok?
            -- Tudo bem pai.
            -- O Miami jogou ontem gravei o jogo, vamos ver?
            -- Vamos sim pai – ele abriu mais uma banana, nossos vizinhos haviam ido, olhei para um quero-quero embaixo de uma árvore fugindo da luz ardente do sol, em breve iríamos partir e esses eram meus vizinhos que eu sentiria tantas saudades, mas iria feliz porque tive o privilégio de conhece-los.
            Meu grande amigo Antonio diria – coisa de bichinha essa sua mania de bichinhos – e eu devolveria alguma outra ironia para ele, riríamos um pouco e partiríamos para outra brincadeira qualquer.
            Eu diria que essa minha paixão pela vida, essa minha força para lutar e resistir e continuar sempre seguindo e lutando vem deles, da admiração e respeito por eles, era hora de assistir nosso jogo, pois afinal o basquete move essa família. 

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