Visitei meu amigo Antonio essa semana, uma das pessoas mais
grandiosas que conheci nessa vida (quem sabe em outras). Fizemos o nosso
revival de sempre de lembranças, “causos’ afloraram, discutimos a vida, sonhos,
problemas...coisas de amigos quando se encontram.
Antonio é meu amigo de infância, então, é irmão mesmo, mesmo
que a distancia diga não, parafraseando uma música que não me recordo, com toda
a licença, titulo nem autor.
Ele
preparou nosso jantar e eu me recusei a comer o bife. Ele ironizou um pouco e
jantamos, eu obviamente sem a carne em meu prato.
Acho que seguirei por muitas vidas com esse meu conflito em
relação a carne, minha razão diz para nunca comer, as vezes quando a fome bate muito forte, vou e como um
pedaço, isso é seguido por um remorso tremendo, fico então mais um longo
período sem comer.
Sempre me considerei, um vegetariano de segunda, um
hipócrita, por não conseguir desapegar-me inteiramente da carne, mas guardo
comigo algumas citações, principalmente a de Dalai Lama quando diz: “Se você
não quer comer carne, não coma, se você quer comer carne, coma, mas esteja bem
em qualquer situação”. A minha leitura dessa citação do Dalai Lama é, cada um
tem uma missão, uma trajetória e um histórico de vida, e cada um tem a sua
evolução para seguir, então, cada um vai
seguindo e recuperando seus, digamos créditos na sua própria trajetória.
Um amigo,
vegetariano convicto, quando certa vez fiz o mesmo desabafo a ele, comentou: “
Mas, você tem que ver que o que você faz já é um avanço, você tem que estar bem
com isso, cada um com sua medida, quem sabe você consiga melhorar seu desapego
com a carne, mas esteja feliz com o que você tem agora”.
Isso me trouxe um grande alívio, realmente não sou um
exemplo, mas estou lutando a minha luta.
Voltando de
viagem, sentado na janela do ônibus, os outdoors vão passando rapidamente, um
outdoor com uma propaganda de uma empresa, não me recordo qual, mostrava um
frango em uma frigideira sorrindo, pensei: “como um ser pode estar feliz, sendo
torturado e sacrificado? – Mas isso não importa para o dono da empresa, para o
frigorífico que além de matar, mata 50% dos animais clandestinamente, isso não
importa para nossa cultura que foi criada vendo o animal como um servo, um
subalterno que oferece sua vida como sacrifício maior.
No dia
seguinte da casa de meu amigo com seu amor e profunda hospitalidade de sempre,
comentou comigo logo cedo “Espera que vou à padaria buscar pão”,
minutos depois, mesa do café posta “ Olha só, comprei esse salgado de calabresa
e uma empada de frango, pode comer”.
Fiquei no pãozinho com manteiga e meu amigo esqueceu que não
como carne e insistiu diversas vezes, em seguida ele iria deixar-me no metro,
eu retornaria para minha casa “Almeida, você não comeu cara, leva os salgados
para você comer na viagem”. Recusei elegantemente novamente e parti ao retorno
a minha casa.
Em casa,
jantei normalmente, conversei com meus filhos e vi varias fotos e vídeos de
animais na internet. Pensei na grande felicidade que é compartilhar o mesmo
teto com esses seres, que nos dão tanto carinho, que nos enchem de amor e que
querem em troca, apenas isso, carinho e respeito.
Em certa
parte do documentário somos apontados como “covardes”, quando somos questionados da seguinte forma: “Se você
visse a morte desse animal você o comeria? “ Então, comeríamos? Uma pessoa
muito próxima a mim, disse que jamais comeria, mas adora carne, e eu pergunto e
daí?
Eu adoro
correr de carro, mas porque adoro vou sair correndo, colocando em risco minha vida
e a vida de outras pessoas. Eu adoro um bom vinho, mas vou me embebedar e talvez
prejudicar de alguma forma os que estarão ao meu lado, prejudicar a mim mesmo
ou a um terceiro?
É uma questão de escolher o que é certo, é uma questão de
respeito com a vida e no caso com a vida de outros seres que são tratados como
escravos na maioria das culturas atuais.
De repente
eu percebi, que não só matamos, nós escravizamos, nós torturamos, nós
transportamos de maneira cruel e enfim matamos, apenas para nos deliciarmos com
suas carnes, suas peles, seus dentes...
Se eu gosto
do sabor da carne? Eu gosto. Mas não comer, para mim é um ato de respeito com
os seres e com a vida, faz bem para a alma e faz bem para o meu espírito, esse
meu pequeno sacrifício me torna mais leve, sinto-me melhor.
Mas,
desculpe-me, esse meu libelo, essa minha chatice, não é para você parar de
comer carne, resumindo a frase do Dalai Lama, “cada um com sua trajetória, cada
um com sua consciência e seus valores”, e não estamos aqui para julgar ou condenar, cada um
que atire a primeira pedra e apontar o dedo para ninguem, apenas meu desejo sincero é que todos vivam bem e em paz.
Contudo,
digo exatamente o que meu amigo disse, tudo é uma pequena vitória, se você ia comer três
bifes, coma dois, se ia fazer um churrasco, mude para um almoço com tudo o que você
mais gosta de comer e inclua uns bifes no meio, ou seja, se você acha que
consegue, faça pequenos gestos de amor a vida, de respeito a vida dos outros
seres, vivemos todos sob o mesmo sol, a mesma lua, as mesmas praias, os mesmos oceanos e estamos em vantagem por sermos a raça
dominante, com toda a nossa “inteligência” e tecnologia, então, que tal
olharmos os outros seres, com um pouco mais de amor, de respeito, mas também de responsabilidade. Que tal?
No fundo e na superfície, o dito "animal" é exatamente como nós, gosta de amor, carinho, companhia, fidelidade, transparencia, respeito, tem medo, sofre, as vezes grita, as vezes chora, mas normalmente sofre, geme, chora e morre baixinho sem nunca reclamar..
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