sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sem nunca reclamar







          Visitei meu amigo Antonio essa semana, uma das pessoas mais grandiosas que conheci nessa vida (quem sabe em outras). Fizemos o nosso revival de sempre de lembranças, “causos’ afloraram, discutimos a vida, sonhos, problemas...coisas de amigos quando se encontram.
Antonio é meu amigo de infância, então, é irmão mesmo, mesmo que a distancia diga não, parafraseando uma música que não me recordo, com toda a licença,  titulo nem autor.
            Ele preparou nosso jantar e eu me recusei a comer o bife. Ele ironizou um pouco e jantamos, eu obviamente sem a carne em meu prato.
Acho que seguirei por muitas vidas com esse meu conflito em relação a carne, minha razão diz para nunca comer, as vezes  quando a fome bate muito forte, vou e como um pedaço, isso é seguido por um remorso tremendo, fico então mais um longo período sem comer.
Sempre me considerei, um vegetariano de segunda, um hipócrita, por não conseguir desapegar-me inteiramente da carne, mas guardo comigo algumas citações, principalmente a de Dalai Lama quando diz: “Se você não quer comer carne, não coma, se você quer comer carne, coma, mas esteja bem em qualquer situação”. A minha leitura dessa citação do Dalai Lama é, cada um tem uma missão, uma trajetória e um histórico de vida, e cada um tem a sua evolução para seguir, então,  cada um vai seguindo e recuperando seus, digamos créditos na sua própria trajetória.
            Um amigo, vegetariano convicto, quando certa vez fiz o mesmo desabafo a ele, comentou: “ Mas, você tem que ver que o que você faz já é um avanço, você tem que estar bem com isso, cada um com sua medida, quem sabe você consiga melhorar seu desapego com a carne, mas esteja feliz com o que você tem agora”.
Isso me trouxe um grande alívio, realmente não sou um exemplo, mas estou lutando a minha luta.
            Voltando de viagem, sentado na janela do ônibus, os outdoors vão passando rapidamente, um outdoor com uma propaganda de uma empresa, não me recordo qual, mostrava um frango em uma frigideira sorrindo, pensei: “como um ser pode estar feliz, sendo torturado e sacrificado? – Mas isso não importa para o dono da empresa, para o frigorífico que além de matar, mata 50% dos animais clandestinamente, isso não importa para nossa cultura que foi criada vendo o animal como um servo, um subalterno que oferece sua vida como sacrifício maior.
            No dia seguinte da casa de meu amigo com seu amor e profunda hospitalidade de sempre, comentou comigo logo cedo “Espera que vou à padaria buscar pão”, minutos depois, mesa do café posta “ Olha só, comprei esse salgado de calabresa e uma empada de frango, pode comer”.
Fiquei no pãozinho com manteiga e meu amigo esqueceu que não como carne e insistiu diversas vezes, em seguida ele iria deixar-me no metro, eu retornaria para minha casa “Almeida, você não comeu cara, leva os salgados para você comer na viagem”. Recusei elegantemente novamente e parti ao retorno a minha casa.
            Em casa, jantei normalmente, conversei com meus filhos e vi varias fotos e vídeos de animais na internet. Pensei na grande felicidade que é compartilhar o mesmo teto com esses seres, que nos dão tanto carinho, que nos enchem de amor e que querem em troca, apenas isso, carinho e respeito.
           No vídeo “Terráqueos” que sempre recomendo para os amigos,  há argumentos irrefutáveis que mostram o quanto praticamos uma convivência assassina e preconceituosa com todos os seres que compartilham do mesmo planeta conosco. O documentário é forte, mas é a realidade e todos tem que ver.
            Em certa parte do documentário somos apontados como “covardes”, quando somos questionados  da seguinte forma: “Se você visse a morte desse animal você o comeria? “ Então, comeríamos?  Uma pessoa muito próxima a mim, disse que jamais comeria, mas adora carne, e eu pergunto e daí?
            Eu adoro correr de carro, mas porque adoro vou sair correndo, colocando em risco minha vida e a vida de outras pessoas. Eu adoro um bom vinho, mas vou me embebedar e talvez prejudicar de alguma forma os que estarão ao meu lado, prejudicar a mim mesmo ou a um terceiro?
É uma questão de escolher o que é certo, é uma questão de respeito com a vida e no caso com a vida de outros seres que são tratados como escravos na maioria das culturas atuais.
            De repente eu percebi, que não só matamos, nós escravizamos, nós torturamos, nós transportamos de maneira cruel e enfim matamos, apenas para nos deliciarmos com suas carnes, suas peles, seus dentes...
            Se eu gosto do sabor da carne? Eu gosto. Mas não comer, para mim é um ato de respeito com os seres e com a vida, faz bem para a alma e faz bem para o meu espírito, esse meu pequeno sacrifício me torna mais leve, sinto-me melhor.
            Mas, desculpe-me, esse meu libelo, essa minha chatice, não é para você parar de comer carne, resumindo a frase do Dalai Lama, “cada um com sua trajetória, cada um com sua consciência e seus valores”, e não estamos aqui para julgar ou condenar, cada um que atire a primeira pedra e apontar o dedo para ninguem, apenas meu desejo sincero é que todos vivam bem e em paz.  
            Contudo, digo exatamente o que meu amigo disse,  tudo é uma pequena vitória, se você ia comer três bifes, coma dois, se ia fazer um churrasco, mude para um almoço com tudo o que você mais gosta de comer e inclua uns bifes no meio, ou seja, se você acha que consegue, faça pequenos gestos de amor a vida, de respeito a vida dos outros seres, vivemos todos sob o mesmo sol, a mesma lua, as mesmas praias, os mesmos oceanos e  estamos em vantagem por sermos a raça dominante, com toda a nossa “inteligência” e tecnologia, então, que tal olharmos os outros seres, com um pouco mais de amor, de respeito, mas também de responsabilidade. Que tal?
           No fundo e na superfície, o dito "animal" é exatamente como nós, gosta de amor, carinho, companhia, fidelidade, transparencia, respeito, tem medo, sofre, as vezes grita, as vezes chora, mas normalmente sofre, geme, chora e morre baixinho sem nunca reclamar..
            

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