(Coluna "Vitaminas Culturais" no jornal O Metropolitano - 05/10/13)
Ola amigos,
Certa
vez, muitos anos atrás, eu estava em uma
exposição de artes plásticas no Centro Cultural São Paulo, e diante de um quadro totalmente em branco,
comecei a rir com uma amiga, dizendo que fazer arte assim era muito fácil,
ironizando a obra e o artista. Pouco tempo depois soube que a proposta do
artista era realmente essa, de nos provocar, provocar uma reflexão diante de um
quadro em branco. Como disse certa vez
Stephen King, quando disse que não sabia fazer outra coisa a não ser escrever, que “o artista é um passarinho que
veio ao mundo para pousar nos ombros das pessoas e mostrar que existem outros
horizontes alem do dito normal”. Então, quando falamos de arte, temos que ser
livres, olhar sem preconceito e tentar entender a proposta do artista e em qual
contexto aquela obra esta inserida. A questão do julgamento segundo algumas escolas filosóficas, é inerente ao
ser humano, mas que tal julgar, escolher o que é bom ou ruim segundo os seus
critérios mas não julgar preconceituosamente sem conhecer e pior ainda alardear
esse preconceito ao seu redor?
Certo dia eu detestei o movimento
hip hop e o rap, mas meu julgamento era preconceituoso e era preconceituoso
porque eu jamais tentei conhecer de uma maneira mais profunda letras e musicas
e se aprofundarmos nossa analise, podemos estende-la, pelo menos em meu caso ao
funk do rio, ao sertanejo dito universitário...
Eu particularmente tenho
dificuldades em aceitar o funk do rio puramente por seu contexto musical, pois
acredito que falta criatividade nas musicas, mas não há como negar que o funk
nasceu de um contexto social de classes socialmente menos favorecidas, então, minha lição
de casa é tentar conhecer melhor essa manifestação cultural e a partir de então
separar o joio do trigo.
O
rap brasileiro já foi dito por alguns críticos, é melhor que o americano, pois
está inserido em um contexto social e não é sexista e preconceituoso como o americano. A
cena hip hop cresceu no mundo inteiro e dentre os artistas nacionais os que
estão na linha de frente da cena hip hop são logicamente o premiado e muito
querido por critica e publico Criolo e Emicida (que lançou recentemente seu
trabalho ”O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui”, Racionais, Pavilhão 9
e Rashid), sem esquecer que as portas
foram abertas la atrás no inicio dos anos 80 por Thaide e DJ Hum.
O
trabalho de Criolo “Nó na orelha” lançado em 2011, recebeu o premio de melhor
álbum pela APCA, e Criolo consegue misturar com maestria em seu álbum o rap com
o samba e dar uma característica de musicalidade bem brasileira ao rap. Se voce não conhece
não perca a oportunidade de conhecer.
Outro álbum lançado recentemente
e o álbum “O glorioso retorno de quem nunca esteve lá”, mostra outro rapper
brasileiro que consegue fundir varias musicalidades, mas sempre preservando a
característica de posicionamento e insatisfação social do rap.
Não deixem de ouvir esses
rappers, sem preconceitos, buscando sempre entender esse contexto social, suas
origens e os rumos que apontam. Infelizmente a musica brasileira atual vive um
ostracismo, uma falta de criatividade geral, a não ser por um Lenine ou um
Arnaldo Antunes, esse ostracismo traz em seu bojo uma musica ruim e totalmente
descartável, feita para dar muito dinheiro as gravadoras, aos ditos “artistas”,
pois artista na verdade é quem faz arte e não um produto totalmente
descartável, bom mas esse já é assunto para outro dia.
As recomendações dessa semana
ficam então para esses dois álbuns sensacionais de Criolo e Emicida que salvam
o momento atual da musica brasileira e apontam para novos caminhos.
Bons sons e bom final de semana,
Altair Almeida
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