
Trecho do livro: "A Batalha das Feras e dos Pálidos Infantes"
Diário de bordo: Data Estelar 30/01/07
A missão nesse planeta continua a ser de observação e aprendizado, aprendemos a falar todas as linguas, menos a língua dos homens. Esse detalhe, penso que, como comandante da missão seria importante resolvermos o mais breve possível e não se preocupem, já estamos trabalhando nisso...
Percebemos que há uma certa angústia no ar, que todos correm para cá e para lá incessantemente e ficam inquietos e insatisfeitos quando chegam a algum lugar, querendo chegar a um novo lugar, isso causou confusão em nossas avaliações.
Recolhemos amostras de árvores, olhares, gestos, sorrisos, peles, cheiros, temperaturas, ou seja, a nave segue abarrotada de volta para casa. Esforçamo-nos (eu particularmente como comandante e também meu imediato) a aprender a fazer poemas concretos (uma linguagem falada por poucos por aqui), mas o máximo que aprendemos, foi a confecção de versos que remetem a um tal período de uma coisa chamada literatura romântica, confeçção de versos românticos, que na verdade como diz nosso cientista de bordo, não chegam a ser românticos, chegam a ser um exercício de algo que não definimos ainda, chamado ora solidão, ora paixão...ou seja, algo relativo e desconexo, algo em constante mutação.
Andamos pelas ruas, travestidos de humanos, o ar é péssimo, o humor é péssimo, a cor do céu é de uma coisa que ora lembra o azul, ora lembra algo mais para o cinza, ora não lembra nada, mas, esse mesmo céu as vezes toma proporções maravilhosas, quando percebemos habitantes alados que deslizam suavemente por suas camadas de ar (a missão ficou confusa também sobre esse ponto), uns diziam que esses habitantes são chamados de aves, outro por não serem nunca percebidos pelos olhares humanos que são anjos. Concordei, com nosso cientista de bordo, como só foram detectados por nossos aparelhos de espectros, eram anjos sim, de uma beleza incrivel, ora louros dos cabelos mais dourados, ora negros de uma beleza indescritivel, interessante que não conseguimos definir as fronteiras entre seu interior e exterior, ou seja, sua geometria e formas são inexplicáveis.
Provamos algo, chamado sorvete, nosso cientista, detectou que esse tal de "sorvete", causa inexplicáveis prazeres a todos, mas devido a distancias de suas geografias, distancias tambem sociais (eles tem esse grande problema), muitos nem conhecem o sabor de tal sorvete.
Verificamos muitos lugares, espaços limitados, espaços comprimidos e ultra-otimizados (nesse ponto já não diria que foram otimizados, mas na verdade estragados) onde os habitantes se comprimem e se agridem constantemente, esses lugares são bolsões chamados "cidades", mas ai percebi algo extremamente interessante tambem, os mesmos habitantes que moram em lugares, de vegetação mais extensa, com rios, campos e menos habitantes, sofrem um pouco menos desse mal, mas tem o mesmo mal, estamos levando amostras dessas cidades.
Como eles não tem o minimo de planejamento, isso aliando-se ao seu extremo egoísmo, acaba ocorrendo uma luta muito intensa e de forma desigual por todos pela sobrevivencia.
Como são muitos os habitantes, como são muitas as cidades, eles tem tambem formas maiores de se agrupar, que são chamadas paises e continentes. Há um continente em especial cuja tradução achamos até poética (com a licença de nossa Base de Comando), "Asia", cujo significado é "terra onde o sol nasce" e "Europa" (deram até esse nome para uma deusa): "terra onde o sol morre".
Há males de todos os tipos, pragas, doenças, mortes, esgotos a céu aberto, tratados que são feitos para não serem cumpridos, ha agrupamentos maiores (países) dominando agrupamentos menores, há alguns nomes que estamos procurando identificar ainda, como infanticídio, pedofilia, matança descontrolada de outros habitantes, uns com nome até engraçados como: tamanduás, jaguatiricas, leões-marinhos.....mas após tabularmos tudo, percebemos que a maior dor desses habitantes é a solidão.
Nosso cientista, Sr. Sumu tentou de todas as formas tabular, dissecar, definir o que é esse sentimento de solidão, eu como comandante, só tenho a dizer que não consegui "experenciar", mas a ví estampada em todos os rostos, a ví traduzida em músicas, em quadros, em poemas, e por todos os lugares que passei...Junto as várias amostras que recolhemos, estamos enviando uma lágrima, alguns sorrisos que captamos no ar, um pequeno vaso com uma pequena planta muito bonita e peculiar chamada avenca, recolhemos tambem um pouco de orgulho e de dor (o tal do orgulho estava abundante por todo o lugar) e o objeto mais valioso que recolhemos até o momento, foi quando conseguimos captar, um momento precioso desses habitantes, quando uma mãe que acabou de dar a luz dá o primeiro abraço em seu filho...
..Continuamos com a missão...
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