
Há vários eus dentro de mim, que tentam
conversar entre si. Há o meu fascínio pelo mundo, por meus filhos, pelas
paixões que deixei, pela minha esperança de uma nova paixão, mas o meu eu
preguiçoso não se move como eu gostaria que se movesse, mas o meu eu de fé na
vida e fé no destino deixa as coisas acontecerem, o que tiver que ser será, se não
tiver que ser ...
Não essa não e’ uma
posição conformista, pelo contrario, e’ um gesto de fé nas forcas do mundo, e’
um gesto de fé na vida, nessa vida arredia que insiste sempre em nos
surpreender.
Há vários eus dentro
de mim, há o que as vezes querem matar,
mas lá no fundo mora o que quer amar, amar no sentido dessa busca de
harmonia com tudo e com todos que tanto buscamos. Minha fé em mim, no mundo e em meus filhos move-me
e aprendi a não cobrar nada do ser humano, essa encruzilhada de sentimentos
contraditórios e em perfeita e constante
colisão.
Há um eu especifico
que quer correr atrás do tempo perdido, que descobriu muitas coisas só agora e
descobriu o que quer só agora, como disse um desconhecido, talvez até algum
escritor consagrado, “ a vida tinha que ser ao contrario”, devíamos nascer
velhos e experientes e ir desfrutando a vida e rejuvenescendo, estilo Benjamin
Button, mas a vida não é assim. Vamos aprendendo com todas as experiencias,
isso quando queremos aprender e quando não queremos, vamos aprendendo na carne,
sangrando e cicatrizando, sangrando e ficando até purulentos. E quem não passa
por essa via, não é verdade? Quem não apanha, apanha, apanha até desanimar,
entregar os pontos e cair? Mas de alguma forma voltamos com forças, forças as
vezes minguadas e continuamos a lutar.
Há poucos eus dentro
de mim, muitos morreram ao longo da jornada, morreu o que sonhava voar, que
fazia questão de dormir mais cedo para voar, que experimentou um dia a sensação
de voar e que jamais vai esquece-la, morreu o que acreditava no amor, no amor
entre almas gémeas, que nasceram e criaram-se para um dia convergirem para o
mesmo caminho e o mesmo destino, morreu essa minha fé e morreu essa minha busca
e eu preguiçosamente espero esse alguém cair do céu e com certeza vou esperar
muito tempo.
Conheci melhor o homem, a natureza humana, e
hoje posso falar com certa autoridade “eu conheço o homem” e “nada me
surpreende no homem”, consequentemente, aprendi
a ter passos mais lentos, mais prudentes,
mais seguros, porque quando em nossa inocência e juventude nos atiramos
para a vida, os cacos são mais difíceis de juntarem-se no final.
Há o eu dentro de mim que se comove com a
cena mais piegas de um filme ou de um livro mas há o eu que quer violência, que
se compraz com socos e chutes, há o eu que quer brigar e o eu que quer se
entregar, há o eu que as vezes quer morrer e no mesmo instante renascer.
Há o que quer soluções humanas e simples para
o mundo, mas há o que não se move para buscar soluções. Há o que quer soluções
para o mundo mas não consigo resolver pequenos detalhes de meu cotidiano..
De qualquer forma eu tenho fé, da mesma forma
que nasce as vezes a desesperança sei que lá no fundo sou forte como um chão
batido e pisado, que ficou assim por justamente estar batido e pisado.
Há o eu que apenas quer deitar em uma sombra
e quer ouvir o silencio, ouvir as canções da terra, o leve assobio do vento nas
folhas, a canção das folhas agitadas entre si,
acompanhar a dança e o destino dos grãos de poeira correndo junto com o vento, esse eu
quer ser atemporal, não quer ser medido em relógio, não quer ser datado e controlado no calendário, esse eu quer
dobrar e brincar com o tempo ao mesmo tempo em que acompanha o grão de poeira.
Quero juntar todos os
eus, mas eles já conversam entre si, fazem concessões, radicalizam as vezes mas
no final sinto que o diálogo está estabelecido. Há os eus mesquinhos mas também
há os eus compassivos.
O que entristece é os eus que já morreram e deixaram um espaço
vazio e morto junto aos outros eus.
Todos juntos, vamos
tentando conversar, aprender e viver.
Um comentário:
Será Arte? querido Alta,o "traduzir-se"?
Eliane
http://www.youtube.com/watch?v=lPZsNQZMC9c
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