Um cão ou um carrão?

            

          Resgatar um cão resgata um pouco nossa felicidade, tira-nos um pouco da mediocridade, do lugar comum e da solidão. Talvez para muitos seja um hábito, para mim é novidade... Extrapolo, penso em médicos abnegados, vivendo longe dos amigos e da família, salvando vidas, deixando pequenos prazeres no ultimo grau de suas necessidades, penso em tantas pessoas que vivem em prol de ajudar, de salvar, resgatar.  Resgatar um cão, resgata um pouco de nosso coração, a gente fica alegre, emociona-se, mas, por outro lado,  a indiferença em qualquer situação é algo que as vezes abate.

            -- Ele tem carrapatos pai. – Foi dito com frieza, pensei assim: -- Óbvio que tem, se cachorras de raça, super bem cuidadas que vivem dentro de casa, aparecem com carrapatos, porque não esse pequeno guerreiro que estava sobrevivendo nas ruas?

            Comecei a chamá-lo de “menino”, afinal a imaginação não estava lá essas coisas e essa era minha última prioridade.

            -- Vou dar banho nele – disse preocupado, afinal o pequeno guerreiro, com seu olhar triste assentia para tudo e parecia muito cansado, muito entregue.

            -- É bom fazer exame de sangue... – Ter um veterinário em casa é certeza de amor a vida, de abnegação, mas as vezes não é certeza do amor, pelo menos da forma que conheço.

            Será que exijo demais? Será que um pequeno animal que tiramos das ruas seria motivo de tanta comemoração, resgatar-se um pequeno vira-lata com seu olhar triste e perdido das ruas seria algo para comemoração? Particularmente fiquei exultante, mas, com certeza há alguma coisa errada em todo esse cenário, mas o que será exatamente? Serei eu?  É bom saber...

            A meu ver, de acordo com minhas crenças e filosofias, é mais um motivo para sentar em um canto e meditar, será que as pessoas estão tão mergulhadas em suas próprias necessidades que esquecem de enxergar ao redor? Porque será que só importam as minhas necessidades frente todo o micro e macrocosmo ao meu redor?

            Se eu tivesse aparecido com um belo carro, a recepção seria a mesma?

            Acredito que são lições que a vida nos dá, em nossa natureza julgadora, tento não julgar, mas apenas aprender com essas pequenas lições.

            No Petshop...—Capricha no banho, vou precisar de coleiras tambem, exame de sangue, vacinas...—entregando-o com cuidado a atendente.

            -- Qual o nome dele?

            -- Ahn...Pode chamar de “menino”

            As três pequenas cachorras de casa e os dois gatos receberam com cheiros, latidos e efusivamente o visitante, acho que no final é isso o que importa.