Para
onde segue esse cão, subindo ladeira
direção acima, branco encardido, manchas marrons desbotadas... ora desbotadas, ora
encardidas.
Sonhei
com ele após esse encontro, sonho doloroso, sonho triste de desejo de salvação, mas o que posso
fazer meu irmão? Eu poderia resgatar todos da tristeza e da solidão...eu
poderia, mas não tenho asas nem poderes de anjo ou de guardião. Não tenho esses poderes, mal me resgato de minhas dores e tombos em vão...
Havia medo em seus olhos, ia seguindo mancando, mas parece que havia um norte, havia uma
direção, havia um objetivo.
Eu o chamo e diante de minha estupida
e colossal impotência, abana-me o errado, parecendo entender que não sou eu que
vou salva-lo, parecendo perdoar-me, infelizmente não sou eu, mas para onde segue o cão? Afago sua
cabeça – Onde coloca-lo em casa? --- Abana o rabo, abaixa a cabeça e sai em
ritmo meio acelerado, preocupo-me vai em direção aos dois “guardiões da rua”, as
vezes brinco que são os dois gerentes da rua: o gordo e seu filho. O filho é
alegre, brincalhão e o gordo? Bem o gordo, tem idade, é lento, mas os dois
sempre abanam o rabo quando me avistam, sabem que sou amigo e as vezes levo
quitutes que na verdade sao nossas sobras guardadas sempre para esses dois.
Temi por ele, Gordo e seu filho,
iriam proteger território, acelerei o passo, aquele pobre e desbotado
manquitola não iria resistir. Latidos, latidos agressivos, corri, luzes
acenderam – Rex! Não Rex! – O grito foi para o gordo, o pensamento passou
rápido – Rex? Mas que nome mais sem graça.
Gordo e seu filho o afungentaram e sossegaram, ele se
foi correndo, subi correndo a rua, mato de um lado, uma rua de casas tristes do
outro, casas feitas de qualquer jeito, sem planejamento, tijolos amontoados,
paredes tortas e desalinhadas, ele se foi e a tristeza me invadiu...Não posso
salvar a todos, mas esse eu poderia salvar, tinha segundos para pensar onde
deixa-lo, como deixa-lo, como protege-lo, mas rapidez, principalmente de pensamentos
nunca foi o meu forte, nunca foi....planejo demais, penso demais e executo de
menos. Sou assim, desisti de mudar isso, isso é coisa de meu cerne, é coisa de
minha genética.
A vida segue e me pergunto, quantos
eu poderia salvar que não salvei, quantos eu poderia ouvir que não ouvi,
quantos eu poderia ter dado um pouco mais de meu tempo ou de mim? Quantos?
Mas
pensei apenas em mim, em minha corrida contra o tempo, em meu umbigo e só vi a
mim cruzando a linha de chegada, que com certeza seria eu o primeiro.
Ser feliz é fazer o outro feliz, ser
feliz talvez seja liberar o sofrimento sem escolher rosto, sem escolher principalmente
espécie. Talvez, não nessa vida, talvez essa vida seja apenas um longo e
dolorido aprendizado, mas quem sabe em outra vida, todos possamos viver felizes
e sem medo, caminhando juntos e zelando pela felicidade um do outro. Talvez nao haja mais Gordos dominando pequenos territórios, nem Manquitolas fugindo de seu medo, fugindo desesperado. Quem sabe...
Um comentário:
também fico me questionando como fazer pra ajudar mais na causa animal, no dia a dia.E eles( nossos irmãos indefesos), em sua nobre mudez, nos seus refúgios devem esperar de nós um ato de heroísmo, enquanto sofrem em meio á crueldade ue grassa nesse planetinha complicado.òtimo texto
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